Antônio Carlos dos Santos[1]
O Curso de Filosofia da Universidade Federal de Sergipe completa 70 anos de existência. Graças ao Decreto nº. 20.311, publicado no Diário Oficial da União em 28 de fevereiro de 1951, foi instituído juntamente com outros cursos da então Faculdade Católica de Filosofia (FAFI). O seu reconhecimento foi efetivado pelo Decreto nº. 34.963, em 1954. Ele funcionou integrado à FAFI até 1968, ano da fundação da Universidade Federal de Sergipe (UFS), quando então ficou vinculado ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Com a reforma universitária de 1971, implantou-se o sistema de departamentalização das unidades acadêmicas e o funcionamento estrutural dos cursos deixava de lado a forma de Instituto e passou a existir o Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH) e, com ele, o Departamento de Filosofia.
Em 1972, o Conselho de Ensino e Pesquisa (CEP) da UFS suspendeu novos vestibulares para o curso de Filosofia. As vagas foram redistribuídas para os cursos de História e Geografia e os professores foram alocados no Departamento de História, conforme o Processo nº. 146/1972/CEP. Sem o curso, os antigos professores de Filosofia, reduzidos à última sala do corredor do Departamento de História, ficaram então responsáveis por ministrar, prioritariamente, as disciplinas Introdução à Filosofia e Introdução à Metodologia Científica. Era a tarefa que lhes cabia.
Houve duas tentativas frustradas de reativação do curso em décadas distintas: uma em 1978 e a outra em 1982. A primeira, foi rejeitada pelo CEP segundo consta em Ata de 9/5/1978. Já a segunda, conforme o processo nº. 8912/1982, foi engavetada, sob alegação de contenção de despesas.
A terceira tentativa, desta feita bem-sucedida, foi liderada pelo Prof. Edmilson Menezes Santos, no início dos anos 90. O Conselho do Departamento de História e de Filosofia aprovou o desmembramento da sua unidade em dois departamentos distintos e autônomos e a retomada da graduação em Filosofia (Ata de 21/10/1992). Através da Resolução nº. 06/93/CONSU, foram restabelecidos tanto o Departamento de Filosofia quanto o seu curso. No dia 25 de agosto de 1993, foi realizada a primeira reunião do DFL, na qual foram eleitos o chefe do Departamento e o coordenador do colegiado, respectivamente, Prof. José Alfeu do Nascimento e Prof. Edmilson Menezes Santos. O primeiro vestibular ocorreu no final de 1993 com a entrada para o início de 1994. Dois eventos marcaram a reabertura das atividades, a saber, a I Semana de Filosofia, que teve como convidada principal a Prof. Dra. Scarlett Marton (USP), e a primeira Aula Inaugural, proferida pelo Prof. Dr. Wilson Gomes, da UFBA.
Atualmente, o Departamento conta com 19 docentes, todos doutores, formados em diferentes centros de excelência do país e do exterior. Além do curso de licenciatura presencial, tem outro, na modalidade a distância, espalhado em vários polos no Estado de Sergipe.
Neste ano de 2021, temos outra comemoração incontornável: os dez anos de instalação da Pós-graduação em Filosofia da UFS. O seu Mestrado foi aprovado em 2011 (tendo a sua primeira turma em 2012), e o Doutorado, em 2018. Os nossos alunos não precisam mais sair do próprio estado para aprofundarem suas pesquisas filosóficas. Ao contrário, esta Pós-graduação tem sido um polo aglutinador e receptor de discentes do norte da Bahia à Paraíba. Além disso, o Programa de Pós-graduação em Filosofia da UFS agrega diferentes especialistas e especialidades nas mais variadas áreas do conhecimento filosófico, com produção acadêmica considerável, reconhecida pela comunidade filosófica nacional. É digno de nota que, em 2016, a UFS acolheu o XVII Encontro Nacional de Pós-graduação em Filosofia (ANPOF), tendo recebido praticamente três mil participantes, entre professores, pesquisadores e estudantes da área.
Se é verdade que os historiadores da educação em Sergipe registram imensas dificuldades em manter professores de filosofia nessas terras, desde o final do século XIX, e se ao longo desses 70 anos do curso de Filosofia essa luta não foi esmorecida, ao contrário, ela continuou mais forte do que nunca, significa dizer que ela foi vitoriosa. Talvez os “pais fundadores” da filosofia nessas terras tivessem conhecimento da mesma fórmula de Horácio, da qual Kant fará divisa das Luzes: “Sapere aude, incipe: ouse saber, ouse ser sábio, comece!”.
[1] É Professor de Ética e Filosofia Política do Departamento de Filosofia da UFS e o seu Decano.